domingo, 22 de novembro de 2015

Riscos ou vulnerabilidades?

Práticas educativas em saúde: da redução de riscos à vulnerabilidade





A educação em saúde é uma ferramenta que pode ser utilizada para a promoção da saúde das pessoas que frequentam as Unidades Básicas de Saúde, porém, cotidianamente, os profissionais de saúde estão habituados a fazer palestras de prevenção e o paciente volta ao território que lhe causou a doença. Dessa forma, as ações educativas preventivas baseadas em palestras que permeiam esse tipo de atendimento não estão conseguindo contribuir para a melhoria da saúde da população, portanto, não estão sendo suficientes para lhes proporcionar qualidade de vida acarretando um aumento nos custos de assistência à saúde.





Também sabemos que outros fatores como o envelhecimento da população, a ampliação da oferta de médicos e o progresso tecnológico são indicadores desse aumento nos gastos com o serviço de saúde, no entanto, é preciso analisar se a abordagem das práticas educativas em saúde estão contribuindo com seu papel de prevenção e promoção à saúde de forma adequada e se existe um movimento eficaz que combine ações de prevenção, de promoção, tratamento individual e coletivo, aliando ações do estado à ações intersetoriais que primem pelo cuidado integral da população, pois assim partir dessas ações teremos menos pessoas doentes e consequentemente os gastos com a saúde serão menores.




Para atuarmos efetivamente na promoção da saúde precisamos conhecer a comunidade, o território no qual estão inseridos, analisar as relações sociais e suas mobilizações, entender como as ações intersetoriais desenvolvidas nesse território contribuem na solução de seus problemas de processo saúde doença, bem como, compreender a atuação das políticas públicas nos serviços de saúde e na melhoria das condições de vida dessas pessoas.




Ha mais de 20 anos, foi criado pelo Ministério da Saúde (MS) o Programa de Saúde da Família com o intuito de aproximar a equipe de saúde à população, com o pensamento de que 80% dos problemas de saúde da população poderiam ser resolvidos na atenção primária. A educação popular em Saúde é um importante aliado sob essa perspectiva, pois deve atuar na prevenção e promoção da saúde. Mas o que notamos em produções científicas sobre a temática, são intervenções focadas somente na redução de riscos e que, no entanto, deveriam também estar focadas na identificação e na redução das vulnerabilidades sociais.




A educação em saúde se baseia atualmente no modelo biomédico, com fonte de dados quantitativos sobre a saúde da população, como o mapeamento de risco, isso é interessante do ponto de vista informativo, porém, em termos de desenvolvimento do processo saúde doença, esse foco deixa de ser relevante, visto que, qual a importância de se saber quantos hipertensos nós temos numa determinada área e promover palestras educativas de alimentação, exercícios se nós não identificamos a causa dessa hipertensão, os fatores que contribuíram ao longo da vida desse indivíduo para esse processo de adoecimento.




As intervenções em saúde precisam ser direcionadas a identificação e a redução das vulnerabilidades, isso exige dos profissionais de saúde um novo papel o de reconhecimento de que a complexidade dos problemas de saúde são provenientes do território, isso exige uma abordagem prática que englobe o ser biológico, social e o ambiental. O caráter analítico do risco pode identificar grupos, por exemplo grupo de tuberculose, de hanseníase, de renais crônicos, etc, o que pode gerar preconceitos e exclusão. Daí a importância de identificar as vulnerabilidades, pois uma vez identificado os problemas que prejudicam a saúde e o modo de vida é possível planejar ações coletivas sistematizadas para alcançarmos resultados para a prevenção e promoção da saúde.


Em artigos, revistas de saúde pública comumente nos deparamos com os termos riscos e vulnerabilidades é importante a revisão desses conceitos para que os profissionais de saúde atuem de forma a promover a saúde e não atuem só na redução de riscos.


O termo vulnerabilidade vem sendo usado desde a década de 90,ele surgiu na área do direito e designava um grupo de pessoas fragilizadas em seus direitos de cidadania. Na saúde,passou a ser usado a partir da publicação nos Estados Unidos em 1992,do livro Aids in toe Ordo, no Brasil em 1993,como o resultado do processo de progressivas interseções entre o ativismo diante da epidemia da Aids e o movimento dos direitos humanos,especialmente nos países do norte. Trata-se de um conceito ainda em construção.(Ayres,et.all,2009)


Já o termo risco na saúde surgiu no século XIX com a epidemiologia. Enquanto o risco é probalístico, isto é, ele mede a probabilidade de um dano ocorrer a uma pessoa, o conceito de vulnerabilidade considera a chance da exposição das pessoas ao adoecimento decorrente das suas condições sociais, econômicas e culturais.


A vulnerabilidade aborda três eixos de análise que tornam as pessoas mais ou menos susceptíveis a doença: os aspectos individuais que se refere a informação do individuo sobre seus problemas e a sua capacidade de usá-las em prol de seu desenvolvimento; os aspectos sociais que trata da possibilidade do individuo obter informações, de processá-las e incorporá-las, não depende só do indivíduo, depende de recursos, escolas, pode enfrentar barreiras culturais e ao caráter pragmático que se refere a uma programação de assistência para proteger a saúde da população, depende de direcionamentos de recursos e assistência planejada do poder publico.


Portanto, as intervenções que tenham como foco a redução de vulnerabilidades no campo da saúde parecem ser uma boa forma intervenção, Pois se não entendermos as condições de vida da população fica impossível intervir no processo saúde doença e isso vai acarretar cada vez mais um custo muito alto para a saúde e se torna um ciclo onde trata-se o paciente e não trata a causa.

Referência: CZERESNIA,Dina(org.)PromoçãodeSaúde:conceitosreflexõesetendências.2ed.Editora Fiocruz.Rio de Janeiro.p121-143.2009





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