Relato de experiência: A educação em sala de espera pede socorro
Silva, Fabia Faria.
E-mail: fafabia2000@hotmail.com
Resumo
Este trabalho trata-se de um relato de
experiência da educação em saúde. O trabalho ocorreu no ano de 2014 em uma
Unidade Básica, no município de Uberlândia-MG, as atividades educativas foram
dirigidas ao público da sala de espera. Os desenvolvimentos das atividades
educativas se deram através da metodologia tradicional de ensino. Concluí com
esse relato que, de fato, a educação em saúde deve propor uma reflexão e
mudança de comportamento na vida dos indivíduos. Para isso ela precisa ser
sistematicamente planejada e assumida pelos profissionais de saúde quanto uma
prática transformadora e não como uma receita a ser seguida pelos pacientes.
A educação em saúde é uma ferramenta importante
para promoção da saúde. Deve ocorrer por meio do diálogo, aliando o saber
acadêmico do profissional de saúde com o saber popular de forma a construírem
juntos o conhecimento e buscarem a qualidade de vida.
Atualmente, essa prática em saúde é realizada
de forma verticalizada, tradicional sem levar em consideração o saber popular,
o profissional de saúde muitas vezes não ouve o paciente e atende de forma preventiva
e curativa.
O objetivo desse trabalho é compartilhar uma
experiência de educação em saúde vivenciada no ano de 2014 em uma Unidade
Básica de Saúde. Esse trabalho foi desenvolvido a partir de palestras
educativas ao longo do ano de 2014 na sala de espera todas as quintas pela
manhã. Buscava-se com essas palestras que a população atendida adquirisse mais
conhecimentos e assim mudasse comportamentos em relação aos mais variados
assuntos tais como: boa alimentação, cuidados com as crianças, imunização,
etc.. As palestras ocorreram na sala de espera com duração media de 30 a 40
minutos.
A sala de espera de uma Unidade Básica é um
ambiente dinâmico, com conversas paralelas, pessoas sendo chamadas a todo o
momento para ser atendida. Ao iniciar as palestras as pessoas eram convidadas para
assistirem o assunto abordado, já previamente escolhido, por achar um
tema importante, algumas pessoas se aproximavam, outras se mostravam alheias
aos assuntos, outras ás vezes perguntavam alguma coisa. O silêncio e o desinteresse
do público em ouvir foi desestimulador.
Algumas vezes terminava-se o assunto
rapidamente porque o último participante estava sendo chamado. Fez-se um novo projeto de
educação em saúde com o tema desenvolvimento infantil de 0 a 6 anos, os temas
tinham uma sequencia cronológica, o assunto era interessante e ajudaria muito as mães. Como podem ver a prática assistencialista
está arraigada em nossas ações. Ao refletir sobre essa prática e pesquisar
sobre educação em saúde percebe-se que era uma ação que estava “remando contra a maré “ que precisava de uma mudança na metodologia de ensino para tocar as pessoas e poder ajudá-las”“.
Estas
palestras informativas, por si só, não contribuem muito para a construção do
conhecimento do público, visto que nós profissionais não consideramos o saber
popular nem o modo de vida da população, por outro lado a comunidade tem
dificuldade para entender a nossa linguagem. Esse descompasso prejudica muito a
construção coletiva do conhecimento.
A partir desse relato podemos fazer os seguintes questionamentos: porque
queremos a todo o momento ditar regras e condutas que acreditamos serem as
melhores para a saúde das pessoas? Para o diabético ensinamos a forma correta
de comer, para os hipertensos ensinamos a fazer a comida isenta de sal, para os
obesos indicamos o exercício físico e daí por diante. Na verdade pensamos que
ensinamos, pois, ensinar exige respeito aos saberes dos educandos (Paulo Freire,
1996).
JAPUR e BORGES (2008) diz que é necessário
abrir espaços de diálogo com a população, gerando espaços de reflexão e problematização,
que possibilitem a construção de uma relação de corresponsabilidade,
favorecendo formas mais humanas e efetivas no processo de trabalho em saúde,
tanto para os usuários, como para os profissionais.
Não podemos ser repetitivos, as pessoas estão
“carecas” de saber o que é certo e o que é errado, mas não mudam. Talvez
não mude porque não construímos junto com elas
uma luz no fim do túnel, não participamos junto, não falamos na linguagem
deles, não os ouvimos. Podemos fazer muito mais do que ir à frente
de uma sala de espera, com um manual de instruções e passar instruções e querer
que as pessoas sigam.
Para promover a saúde é preciso
sentar com as pessoas, conhecê-las, ganhar a confiança, para
podermos trocar informações. A partir dessa aproximação e uma rotina
de roda de conversa poderemos ouvir, analisar e propor melhorias para o
atendimento na Unidade e no Bairro.
Não quero através desse relato desprezar o
saber acadêmico dos profissionais de saúde que trabalham nas UBS, nem a atuação
deles na promoção da saúde, pois cada profissional se empenha para fazer o
melhor, formamos para tratar feridas,medicalizar, mas não nos ensinaram ensinar.
Para ensinar precisamos ouvir, quero
convidá-los a uma reflexão para o que vem a ser promoção de saúde e como podem
trabalhar para isso. Reflitam como poderão atuar na motivação das pessoas
considerando as condições de vida dos pacientes. Para que desenvolvam uma nova
visão sobre a educação em saúde, saibam
diferenciar prevenção da saúde de promoção. Certamente esse relato servirá de
apoio para aqueles que querem fazer diferença e não sabem por onde começar.
FREIRE. P. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários
à prática educativa São Paulo: Paz e Terra, 1996.148p.
JAPUR, M.; BORGES, C. C. Sobre a (não) adesão ao tratamento: Ampliando sentidos do autocuidado.
Texto e Contexto Enferm. Florianópolis, 2008. Jan-mar; 17(1): 64-71.
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